sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Neópolis e sua religiosidade


Analisando a cidade Neópolis, podemos observar o quanto a Cidade carrega uma grande herança história e simbólica, porém, quando iremos estudar está cidade de uma forma mais abrangente, nos deparamos com grandes dificuldades devido à grande perda de informações ao longo do tempo. Muitos documentos foram perdidos e uma lacuna de incertezas e dúvidas que foram sendo estabelecidas com o decorrer da do tempo.
Através de uma análise da junção de materiais e de pesquisa sobre a cidade poderemos estabelecer aspectos religiosos que se encontram presentes durante muito tempo nesta cidade.
A princípio, apresentaremos fatos históricos, sobre o primeiro aspecto religioso que se encontra através do antigo nome da cidade que foi de Santo Antônio de Vila Nova, elevado à categoria de freguesia e, 18 de outubro de 1679, o nome da vila foi presenteado com o nome de um santo católico, o que se pode explicar devido o grande grau de influência católica na época.
Até meados do século XVIII, a coroa portuguesa controlou a atividade eclesiástica na colônia por meio de padroado, arcava com o sustento da igreja e impedia a entrada de outros cultos, em troca de reconhecimento e obediência. Neopólis como os demais municípios sergipanos apresentava um número razoável de negros que não poderiam prestar seus cultos aos seus santos devido a este mandato da coroa.
A igreja Nossa Senhora do Rosário se encontrava ao lado da forca que era o local de execução de negros que não seguiam as leis escravocratas, conforme à história, esses negros antes de serem executados entravam na igreja nossa senhora do rosário a padroeira dos negros e pediam perdão pelos seus pecados e confessavam o seu crime, ao contrário das igrejas de Laranjeiras onde os negros não podiam se quer circular nas igrejas dos brancos, estes poderiam rezar e arrepender dos seus pecados perante sua morte.
Atualmente uma divisão religiosa pode ser percebida nesta cidade, o que há séculos atrás só poderia ser observado uma única religião, a católica, hoje podemos ver em visitas na cidade de Neópolis igrejas como a Assembléia de Deus da religião protestante na cidade.
A grande riqueza em crenças pelos moradores mais velhos da cidade também se encontram presentes na cidade, a grande devoção pelos seus santos e os mitos que foram criados sobre eles fazem parte dessa herança histórica da cidade.



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Referências:

1.Sergipe Panoramico/Universidade Tiradentes; organização Jouberto Uchôa de Mendonça e Maria Lucia Marques Cruz e Silva, Aracaju; UniT, 2002
2.Cinform Municípios, História dos Municípios, 2002
3.ALVES, Rubem A.; O que é Religião, editora brasileira 3ª edição, coleção primeiros passos número 31.
4.ELIADE, Mircea, Tratado de história das religiões, 2ª edição- São Paulo: Martins Fontes, 1998.

sábado, 16 de janeiro de 2010

A história de um castelo esquecido em Aracaju



Esse trabalho foi elaborado para mostrar quanto o antigo presídio de Aracaju é importante para nossa cidade e o significado que se esconde nesse prédio que possui a frente de um castelo, um verdadeiro patrimônio e registro histórico feito por imigrantes italianos, para a cidade de Aracaju, situado no bairro América.
No final do século XIX, imigrantes italianos saíram da sua terra natal para poder vim para o Brasil por melhores condições de trabalho e nessa transgressão de imigrantes para o Brasil estão alguns italianos que deram iniciativa a construções da mais belas artes arquitetônicas não somente em Aracaju, mais em todo o Brasil.
No inicio do século XX, as artes plásticas em Sergipe tiveram uma influencia muito grande na arte italiana, por intermédio dos italianos Rafaelle Alfano (Artista Plástico, escultor e desenhista), Frederico Gentille (Construtor) e Oresti Gatti ( Pintor e escultor).
Construído no governo de Graccho Cardoso sendo um projeto do jovem e distinto engenheiro Dr. Arthur Araújo, tendo sua pedra fundamental batida no dia 05 de outubro de 1923 e três anos depois inaugurava-se na tarde do dia 12 de outubro de 1926, no final do mandato do Presidente Graccho Cardoso, a Penitenciaria Modelo de Sergipe no alto do Pindaíba, fora do perímetro urbano. A construção seguia a um partido arquitetônico italianizante, com sua locação de um “ T ” invertido, com boa estrutura para a vigilância e concluída dentro dos padrões aceitos para a época. A penitenciaria era modelo para todo o Brasil, com tudo de mais moderno na época,o frontispício, composto de duas torres, com seteiras e componentes de decoração mourisco, com janelas e portas em arco pleno, toda em cimento armado, cercado de altos muros, tudo obedecendo aos critérios dispostos, onde era sinônimo de conforto e o mais malicioso detalhe não foi esquecido.
Reforma da Penitenciária do Estado de Sergipe, acontece no governo do Dr. Eronildes de Carvalho, projeto inspirado nas linhas arquitetônicas do Castelo de S. Giorgio, situado na região napolitaba de Salerno, Itália, onde nasceu Raffaelle Alfano o principal responsável pela reforma da penitenciária onde ele deu o toque da arte renascentista construindo na frente do presídio uma replica do original.
A principal ruptura com o espaço medieval se dá a partir do momento em que os arquitetos do Renascimento passam a designar nos seus edifícios um ritmo de percurso em que as regras de desenho do espaço são facilmente assimiladas pelos usuário e estes, a partir de uma analise objetiva do espaço, ainda em que um certo sentido empírica, tem condições de domina-lo e impor o seu ritmo. O domínio da linguagem clássica, usado para se chegar a estes efeitos de percurso, só se torna possível quando simulado através do projeto pela perspectiva. Como resultado, tem-se um espaço perspéctico, integralmente apreendido pelo observador e cujas relações proporcionais se mostram de forma analítica e objetiva.
Estas novas relações espaciais mostram-se especialmente evidentes quando comparadas com o espaço presente nas catedrais góticas. Nestas, a intenção arquitetônica é a de que o observador, desde o momento em que entra no edifício, seja dominado pelo seu espaço e instantaneamente deseje olhar para cima, procurando um movimento ascendente em busca do Senhor. Em outras palavras, toda a monumentalidade daquele espaço que tem a função, entre outras, de possuir o individuo e determinar seus desejos, o ritmo de seu passo e a forma como ele usufrui do edifício. No espaço renascentista a intenção é justamente a oposta: não mais o edifício domina o individuo, mas este apreende suas relações espaciais e domina o edifício. Em outras palavras, busca-se neste momento aquela que seria chamada de medida do homem.
Se compararmos a linha arquitetônica traçada nos primeiros trinta anos deste século, com a linha arquitetônica de Salerno, encontraremos quase uma réplica, inclusive, pelo fato de existir em nossa geografia uma leve semelhança com o Golfo de Salerno.
Essa importância dá-se em pelo menos três dimensões: histórica, artística e urbanística.
A primeira de todas é sintetizada no seu valor histórico, como um marco da política de segurança da sociedade, excluindo do seio social aqueles que, por uma ou outra razão, transgrediram as regras sociais, consubstanciadas em lei. Ela substituiu velha cadeia pública de Aracaju.
A segunda liga-se ao próprio partido arquitetônico, adotado na época de sua construção e que, realmente se constitui um marco da arquitetura na primeira metade do século XX em nossa capital.
A terceira dimensão liga-se ao poder de atração que a penitenciaria exerceu sobre a expansão da cidade, definindo um novo vetor de ocupação de espaço urbano.
Esta é a fase em que Aracaju começa a se consolidar em relação às demais cidades sergipanas, como o centro econômico, político, administrativo e cultural do estado.
Com isso posso dizer que esse foi um marco da construção civil da cidade, com a sua devida preservação e adequada utilização em projetos sociais ou educacionais.



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Referências:

1.BARRETO, Luiz Antonio ;Personalidades Sergipanas Aracaju: typografia; editorial, 2007.
2.Leis e Decretos 1925-1926.
3.Revista Aracaju Magazine 2000.
4.Documetos do Conselho Estadual da Cultura; Tombamento da casa de detenção de Aracaju(antiga penitenciaria).
5.Revista do Patrimônio - História e Artistico Nacional, nº 24, ano 1996.
6.JASON, H.W; Iniciação da arte; tradução Luiz Camargo, 2ª edição São Paulo: Martins Fontes 1996.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

João Rodrigues de Jesus - Notas do esquecimento


O Senhor João Rodrigues de Jesus nasceu no ano de 1924 na cidade de Itabi, semi-árido sergipano, porém esta idade não é oficial, o seu registro o tem como natural da cidade de Aracaju nascido em 1930.

Parece um equívoco o seu registro datar uma diferença de seis anos de idade. Mas, quando o próprio João diz, naturalmente, ter chegado a Aracaju em 1º de Janeiro de 1946, com 22 anos de idade, ele só poderia ter nascido mesmo em 1924.

De família pobre, filho de Evaristo José Rodrigues e Maurícia Maria de Jesus, João foi criado num ambiente tipicamente do campo. Sua mãe cuidava do lar e fazia participações nas cantorias do Reisado (fato este que João Rodrigues só soube muito tempo após a morte de sua mãe), já seu pai trabalhava nas propriedades rurais, fazendo serviços da terra, principalmente na atividade de desmatamento e retirada da madeira; esta foi, inclusive, a razão que levou sua família mudar-se para a região de Japaratuba e Carmópolis, onde de lá finalmente o senhor João se mudou para Aracaju.

Quando criança as brincadeiras eram comuns às de todas as crianças da vida rural, era carro de boi feito com osso, brincadeiras de roda e cantigas, até que um dia ele ganhou uma bandurra de presente de um amigo de seu pai, adaptou um encordoamento de linha e logo saiu brincando de tocar música. Mais tarde, um amigo seu lhe deu uma bandurra melhor, fabricada pelos detentos da Penitenciária de Aracaju e ele passou a encarar a brincadeira com um pouco mais de seriedade.

Seu João deve a este fato o seu primeiro contato musical, relata que sua relação musical começou desde a infância, e, naquele momento, não sabia ainda a dimensão que esta ia tomar em sua vida.

Na mudança para Aracaju, sofreu a falta de estrutura para manter-se na capital, foi daí então que aprendeu a arte da alfaiataria; tendo depois trabalhado para dois comerciantes do ramo, Irmãos Figueiredo e Cícero Menezes (a quem deste, ele deve a sua aposentadoria como Alfaiate) que ficavam no calçadão, centro da capital.

Entrou para o colégio General Valadão, porém, tendo dificuldades de se manter na escola (por sua idade ser bem maior que a dos outros alunos!), era comum ele migrar de colégio para colégio, foi assim que ainda freqüentou mais duas escolas de Aracaju; a Dom José Tomaz e a Escola de Comércio, terminando apenas o 4º ano primário.

Seu estudo de música começou através do auxílio de um senhor do qual ele não lembra o nome, que era da polícia militar, e principalmente das revistas cifradas, que ensinavam passo a passo o dedilhar do violão, cavaquinho, bandolim entre outros instrumentos de corda, mas, atestadamente, a sua paixão maior era o bandolim, um instrumento dos mais difíceis de tocar, pela proximidade das cordas e dos trastes, por isso, muito mais difícil de soar as notas.

Apesar dos inconvenientes, João Rodrigues manteve-se onde estava e não quis voltar para o interior, teve boas amizades no colégio, foi lá que conheceu um amigo com o qual tiveram a idéia de estudar música por conta própria.

Estava aí um bom motivo para uma vida mais sociabilizante. A música traria a ele uma razão a mais para interagir com as pessoas, era algo que poderia expor.

João Rodrigues passou a ganhar a vida tocando nos bordéis, era uma forma de complementar a renda fazendo um trabalho artístico. De dia colocava as mãos para a costura das roupas masculinas como alfaiate no calçadão da Laranjeiras, e à noite saía com seu bandolim para tocar nas noites aracajuanas.

Aracaju, entretanto, possuía um conjunto de boates e cassinos que tiveram seus dias áureos, no Beco dos Cocos estava em plena operação a Boite Xangai e a pensão de dona Marieta, também na avenida Otoniel Dórea, Tonho de Mira tomava conta da Boite Miramar, complementando este conjunto, ainda operavam os cassinos Bela Vista, cassino Imperial entre outras casas menos freqüentadas como o “Pinga Pus”, “Stalingrado” etc.

Essas casas noturnas, apesar de mal vistas pela sociedade, era o ponto de encontro de uma geração de artistas da música e da dança. Lá também se encontravam políticos, intelectuais e boêmios de Aracaju ainda romântica, segundo Murilo Mellins.

João Rodrigues relata que a vida de músico naquela época era muito difícil, ganhava muito pouco e muitas vezes atrasavam o cachê, às vezes faltavam-lhe até o pagamento. Esta condição implicava sua vida, “faltava dinheiro para comprar uma roupa ou outras coisas, dava mal para a comida”!

O que lhe restou de bom foi apenas a experiência, que ele relata com certa nostalgia sobre a vida nas casas noturnas. Ressalta que eram locais agradáveis de freqüentar, os homens usavam ternos impecáveis, as prostitutas se vestiam belamente e tinham mais respeito, ou seja, havia um trato mais cordial entre homens e mulheres.

Também naqueles ambientes noturnos tocava-se boa música, era bossa, samba, bolero, tango, mambo, valsa, chorinho entre outros gêneros musicais. Dentre as apresentações que ocorriam no Xangai houve até, certa vez, um espetáculo de uma companhia de balé, com vinte e cinco bailarinos em palco, algo que naquele tempo era digno somente dos luxuosos bordéis da alta sociedade carioca!

Hoje, a posição socialmente ocupada pelo senhor João Rodrigues de Jesus é a do abandono, do anonimato, também condicionada pela falta de registro.

João Rodrigues passa por uma situação precária, vive de uma aposentadoria básica (como artesão, de seus trabalhos como alfaiate), não conseguiu se aposentar como músico, apesar de sua importância musical para Sergipe. Vive na Vila Aparecida, rua Divina Pastora, num quartinho de dois cômodos, sem as mínimas condições de vida dignas de um ser humano, em meio aos seus discos abandonados, fragmentos de suas partituras, quinquilharias, lixo, ratos, baratas e traças.

João Rodrigues foi uma pessoa pobre, vítima das circunstâncias políticas nacional, ou seja, faltaram (e falta) políticas sociais que amparem o indivíduo, tanto artisticamente como humanamente.

As políticas de assistência social, na realidade, se resumem à nulidade, principalmente quando se trata de um grande artista local, que deveria ser amparado dignamente com acompanhamento de tudo o que for necessário para a boa saúde física, mental e material.

João Rodrigues não casou nem teve filhos, como ele mesmo diz: meu casamento foi com a música.

A música foi a maior companheira da sua vida, foi através dela que ele se incluiu na sociedade, assim como vários outros sergipanos, que se perderam no tempo, foram esquecidos, e tiveram de suas vidas a mesma importância do ar, que vem, alimenta as nossas vidas, e vai embora sendo esquecidos por nós.

Esta é a razão da arte, sem ela, sem as nossas ilusões, seríamos seres ainda mais decadentes, vazios, mais próximos da morte, pois a condição de sermos eternamente inquietos nos levaria ao devaneio. Precisamos da arte, da música, da dança, do teatro, do cinema, do folclore, para nos livrar da realidade de nós mesmos, por isso mesmo devemos zelar pelos “atores” desta peça chamada cotidiano.

Em se tratando de História, podemos concluir que o senhor João Rodrigues de Jesus faz parte de uma geração de artistas do estado de Sergipe, que passou mais de meio século vivenciando e produzindo o choro em Aracaju, por isto mesmo ele é parte do Patrimônio Cultural Sergipano.



Referências:


1. João Rodrigues de Jesus. Compositor instrumentista, 83 anos, Aracaju‐SE
2. Domingos Santana, compositor e músico 52 anos, Aracaju‐SE
3. Professor Ayder Araujo, músico compositor 74 anos‐ Manaus‐AM

4. Aracaju, 1966 um Retrato Vivo da Cidade
5. Revista de Aracaju 2002
6. Revista Renovação 1934
7. Revista Alvorada 1950/1980

8. MELLINS, Murilo. Aracaju Romântica que Vi e Vivi. 3ª ed. Aracaju: Unit, 2007.
9. Aracaju. Secretaria Municipal de Cultura, departamento de patrimônio Cultural Divisão de patrimônio histórico de 1989.

10. ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 5ªed., 2004.